sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Combogó, cobogó, cobogow ou combogol!!??



Quando comecei a dar aula, me surpreendi com a grafia de uma palavra que até então, pra mim, sempre foi corriqueira desde a infância. Tratava-se de um desenho arquitetônico, onde o aluno estava indicando um elemento vazado, e estava escrito combogow. Confesso que inicialmente até achei engraçado, e pensei que o aluno havia se confudido e escrito um “w” onde não existia. Com o passar das aulas, notei que é assim que o elemento vazado ficou conhecido aqui no Acre, o que se confirmou quando vi  uma propaganda na televisão de uma loja de material de construção, onde a grafia era a mesma.
Claro que como arquiteta, professora e pernambucana, não podia deixar de corrigir os alunos todas as vezes em que o equívoco ocorria, mesmo que fosse algo culturalmente entranhando na linguagem coloquial do acreano. Digo isto porque ouvi outras pessoas, inclusive profissionais da área, repetirem o mesmo engano. 

Então, lembrando disto, pensei em um post sobre o tema.
O cobogó é um nome dado ao elemento vazado, muito utilizado na década de 20  pelos engenheiros Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de is, que patentearam o nome com as iniciais de seus sobrenomes, aceita também a forma gramatical combogó, pois é, o combogó ou cobogó ( e não, nunca, jamais, combogow ou derivações similares), é uma invenção pernambucana, inspirada nos muxarabiês, tramas vazadas de madeira, muito usada na arquitetura moura, presente no início da colonização pernambucana, ainda hoje os muxarabiês são encontrados em algumas casas.
Com a intenção de manter a privacidade sem comprometer a luminosidade e a visibilidade de dentro pra fora  da edificação.
Os cobogós foram e ainda são bastante utilizados, embora tenham seu momento kitsch, em fachadas e como divisórias nos ambientes internos. Pois permitem uma “quebra” da incidência solar direta e ainda um melhor aproveitamento da ventilação natural. Um ótimo elemento para a região nordeste.

Um dos marcos do modernismo no Brasil, um dos mais importantes edifícios do patrimônio brasileiro: a Caixa d’Água de Olinda, no Alto da Sé, projetada pelo arquiteto Luiz Nunes em 1936, um dos pioneiros da arquitetura moderna brasileira.


Caixa d'água de Olinda
Caixa d'água de Olinda- vista da fachada em cobogó.


Localizada em um sítio histórico colonial, causou muita polêmica, devido ao uso de pilotis e a forma pura da construção, que utiliza uma fachada cega e outra totalmente vazada, como cobogós.











Oscar Niemeyer, entre outros modernistas utilizaram muito os cobogós, juntamente com os brises, em várias fachadas, principalmente em Brasília.


Um outro edifício muito peculiar, localizado no bairro do Recife Antigo, em Recife,é o Edifício Luciano Costa, que até bem pouco tempo apresentava a junção de dois estilos, de  duas épocas diferentes. Construído em 1915, em estilo eclético, o prédio foi encoberto por uma nova fachada, com cobogós, em 1959, configurando um estilo modernista. 
  
Fachada original de 1915 do edifíco Luciano  Costa-Recife Antigo-Recife-PE

 

Fachada do edifício depois da intervenção de Delfim Amorim, sofrida em 1959- uso de cobogós formando um véu na fachada original.
  O prédio passou por uma reforma, onde seus elementos vazados foram retirados e a fachada original foi resgatada.
Fachada do edifíco após retirada recente dos cobogós.



Originalmente feitos em cimento, hoje podem ser encontrados em diversos materiais, como cerâmicos, vidros, esmaltados, mármores e etc.



Cobogó genuíno

Cobogó Haaz- uma versão mais atual feita em mármore branco para uma exposição na Turquia-criação do arquiteto Márcio Kogan. 

Cobogó em trama de palhinha do arquiteto Cícero Ferraz da Cruz, da Brasil Arquitetura
Galeria de arte da Casa Cor Brasília 2008-projeto Domo Arquitetos
Particularmente gosto do uso do combogó, mas é preciso estar atento para a harmonia entre o modelo e a tipologia da fachada. Outros itens importantes a serem considerados são em relação ao nível de  insolação e  ventilação. O efeito conseguido ao longo do dia com a variação da iluminação provoca visualizações internas diferentes e bastante agradáveis. 
Escola infantil em Natal-RN-projeto Felipe Bezerra-efeito visula circulação interna
Vista da fachada- Escola infantil
Efeito visual da fachada

Aqui na região norte, uma outra preocupação é com relação às chuvas,  pois dependendo de como for empregado, com certeza havéra muita água adentrando a edificação através dos cobogós.
Painel de cobogós amerelos-projeto da arquiteta Renata Pedrosa


A noite o  modelo em círculos destes cobogós projetam um efeito de bolas na parede de trás-projeto da arquiteta  Jovita Torrano


Vocês poderão encontrar mais imagens no site http://casa.abril.com.br/materias/materiais-construcao/cobogos-fashion-cores-modelos-novos-usos-elemento-vazado-615732.shtml#4.

Fontes consultadas:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.005/975







5 comentários:

  1. é verdade Edfa, essa foi uma palavra que aprendi, e a outra é "Basculante", comumente dito em nossa regiao como BASCULHANTE ou ate mesmo VASCULHANTE.
    Adorei a materia...

    ResponderExcluir
  2. Vivi, adorei o blog e a matéria!!!!!
    Beijoss

    ResponderExcluir
  3. essa propagando que falava o nome errado, se não estou enganado pronunciava Comongol. :P
    já ouvi histórias de profissionais de arquitetura relatando em conversas a respeito de obra, palavras que foram ditas como:
    Prato de banda - platibanda
    Russo - Rufo
    baldaime - baldrame
    ____
    mas a meu ver esses erros vem mais da falta de preocupação em saber o carreto.

    ResponderExcluir
  4. Tambem gostei muito da conversa a respeito.

    ResponderExcluir
  5. Muito boa a matéria, enriqueceu bastante os meus conhecimentos.

    ResponderExcluir