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sexta-feira, 13 de maio de 2011
domingo, 30 de janeiro de 2011
História da arquitetura do Acre
Estava navegando na net e achei esse texto no site do vitruvius, da arquiteta Ana Lúcia,colega, professora da Uninorte e pesquisadora da Arquitetura Acreana, escrito juntamente com o arquiteto Luiz Amorim. Resolvi postá-lo aqui para ajudar a divulgar um pouco mais sobre a evolução urbana e história da arquitetura do Acre. Vale a leitura. É um inventário maravilhoso, para arquitetos, historiadores, estudantes e leigos, para acreanos e não acreanos também.
Acre, história e arquitetura
Tradição vernácula e moderna num ambiente de floresta
Ana Lúcia Reis Melo Fernandes da Costa e Luiz Manoel do Eirado Amorim
A história do Acre é desde cedo lugar de encontros de culturas diferentes sendo mais um exuberante capítulo da história do Brasil. Portugueses, nordestinos, sulistas, sírio-libaneses e bolivianos, entre outros, aliaram-se aos nativos da região, os indígenas, no amalgama dos saberes culturais e o entrelaçamento de raças, costumes e interesses, reproduzindo, guardando as devidas proporções, a época dos descobrimentos.
É, pois, o último ponto de expansão de fronteira brasileira ao noroeste da Amazônia, no fim da primeira metade do século XIX. Tem a origem de seu nome no dialeto indígena Ipurinã Wuawiukiru, que logo foi aportuguesado “Aquiry” - Acre - pelos recém-chegados. Pretende-se, aqui, contar uma breve história da arquitetura, e a aparição das primeiras cidades, naquela região, enfatizando as contradições harmônicas entre a tradição vernácula e moderna num ambiente de floresta.
Como um espaço natural desconhecido do mundo civilizado sofreu um processo de ocupação lento, tendo uma primeira fase apenas geográfica, registrada cartograficamente pelas missões científicas e exploratórias, como a de William Chandless, um geógrafo enviado pela Royal Society of London em 1864, iniciando a efetivação da fronteira acreana, forçada pelo extrativismo da nativa hevea brasiliensis, cujo látex produz a borracha vegetal.
A ocupação da Amazônia, porém, começou muito antes e teve momentos distintos: um de ordem pontual, com a coroa portuguesa, e subliminarmente com a francesa, a espanhola, a holandesa e inglesa; prosseguindo depois à fase da busca pelas drogas exóticas, o interesse pela pesquisa e logo a seguir a implementação da atividade extrativa da hevea brasiliensis, e, por último, o pós-ciclo da borracha, marcado por uma ocupação caótica, ligada ao ciclo da agropecuária.
Na fase ainda geográfica, o Acre foi anexado à Província do Amazonas, fazendo parte da Comarca do Rio Negro. Em 1898, inicia-se a segunda fase, quando o ministro boliviano Paravincini estabeleceu o Departamento Boliviano do Acre, em Porto Alonso, com a intenção de arrendar aquele território aos Estados Unidos da América. Fato que acabou por provocar a Revolução Acreana que terminou com a assinatura do Tratado de Petrópolis, em 17 de novembro de 1903, com a Bolívia, incorporando-o ao Brasil, e, depois de ter sido Território, passou à Estado em 1962.
O Acre atual faz divisa com Amazonas e Rondônia e fronteira com Peru e Bolívia. Sua extensão territorial é de 445 quilômetros no sentido norte-sul e 809 quilômetros entre o extremo leste-oeste. Sua população é de aproximadamente 546.732 habitantes distribuídos numa superfície territorial de 153.149,9 quilômetros quadrados, que corresponde a 3,9% da área amazônica brasileira e a 1,8% do território nacional (ZEE, 2000).
A selva inabitada pela civilização recebeu as primeiras intervenções do imperialismo com o capitalismo industrial, vindas com a implantação dos seringais, cuja espacialidade de seu núcleo traduziu a primeira unidade produtiva da região, no caso para extração do látex e produção da borracha vegetal.
Há uma divergência de opiniões entre historiadores a respeito da gênesis das cidades acreanas. Uns acreditam que se desenvolveram a partir dos seringais e outros defendem que nasceram paralelamente às atividades dos mesmos, abrigando funções comerciais alternativas. Podemos considerar as duas questões, uma vez que as cidades estavam sempre próximas aos seringais e de uma forma ou de outra estabeleceram relações de dependência e de desenvolvimento.
Assim, nessa primeira fase geográfica, os aglomerados surgem de forma espontânea, seguindo os cursos das navegações ribeirinhas, responsáveis pela penetração no território tendo como marco para fixação a quantidade de seringas, como é sutilmente chamada a árvore que faz jorrar o ouro negro. Mas, logo em seguida, esses aglomerados recebem planos de organização espacial, projetados por engenheiros militares, já na república.
Os núcleos, então, ainda não tinham autonomia de cidades, coisa que só veio a acontecer em 1912/1913, mas passaram à condição de vilas. Como principais citaremos Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Xapuri e Sena Madureira, que tiveram diferentes tipos de colonizações e receberam de forma diferenciada os planos urbanísticos que a República Brasileira, distante, lhes enviava.
Xapuri foi a primeira capital do estado e teve planta idealizada pelo engenheiro militar Gastão Lobão em 1903, fortemente marcada pelo traçado reticulado que foi delineado praticamente in situ, nas quadras que já estavam ocupadas por ordem de Plácido de Castro, militar que comandou a Revolução Acreana.
Rio Branco, a atual capital do Estado, só veio a ter seu plano em 1908, quando Gabino Besouro, o prefeito do Departamento na época, designou os engenheiros Manoel Maria de Figueiredo Aranha e Álvaro Conrado de Niemeyer, ambos 2º tenentes, para ordenar um projeto de arruamento e implantar, na margem oposta do rio Acre, em Penápolis, um posto meteorológico, quando a cidade veio ocupar as duas margens, tornando-a mais pitoresca, também com traçado reticulado.
Esses planos não foram imediatamente adotados, tornaram-se, porém, importantes nos traçados das cidades atuais. Caso diferente de Sena Madureira que foi desde logo destinada à sede do Departamento do Alto Purus e seu plano é marcado por uma riqueza de detalhes e beleza de desenho da implantação das obras civis e religiosas.
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http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.083/257
sábado, 29 de janeiro de 2011
Boneca de pano no design
Os Irmãos Campana inovaram mais uma vez, a cadeira Multidão é feita com bonecas de pano do Nordeste e segundo eles, representam a migração para o Sudeste. Unir estilos e materiais diferentes no design podem funcionar perfeitamente, essa junção de elementos regionais com contemporâneos confere personalidade ao ambiente. Os Irmãos arrasaram, linda!
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Combate à dengue X urbanismo
Vista aérea de Rio Branco-AC. |
O problema da dengue aqui em Rio Branco é alarmante, e não é só uma questão dos poderes públicos. É sabido que a maior parte do município não é saneada e também não recebe água potável, em muitas residências a água é obtida através de poços artesianos ou poços amazônicos. Como estamos no período de chuva – o inverno amazônico- muita gente usa a caixa d`água sem a tampa para reservar a água pluvial. O que poderia ser louvável, se olharmos sob o ponto de vista ecológico, porém, essa necessidade básica, ao qual todo cidadão tem direito, torna-se uma arma contra ele mesmo. Pois é aí que o mosquito deposita suas larvas. Mas também não é só isso, o acúmulo de coisas inúteis nos quintais, vasos, pneus, entulho, enfim. Tenho visto o “caminhão da Prefeitura” retirar tanto lixo das casas, que parecem que passam o ano acumulando, esperando o poder público passar para limpar os seus quintais.
Entulhos na rua que foram retirados das casas- à espera da coleta. |
Manter a área externa da casa limpa é uma tarefa para ser feita ao longo do ano, e cada morador deve ser responsável por isso. E aos poderes públicos cabem fornecer água potável, saneamento básico, ruas asfaltadas, postos de saúde adequados, aliás, atuar com prevenção para evitar a superlotação nos centros de saúde. E isso se faz com planejamento e projeto urbanístico, é aí que entra o arquiteto e urbanista - ao contrário do que muitos pensam, arquiteto não só desenha - juntamente com uma equipe de engenheiros civis, sanitaristas, ambientais, entre outros, para a elaboração de projetos urbanísticos, que irão contemplar toda infraestrutura necessária a urbes, ou seja, à cidade e ao cidadão, melhorando a qualidade de vida e fazendo com que o seu desenvolvimento não acarrete problemas futuros. Como por exemplo, a ocupação em áreas irregulares, o que dificulta a ação do poder público em fornecer a infraestrutura básica. Recentemente, vimos as tragédias ocorridas, em Petrópolis e Teresópolis, fruto da falta de um bom planejamento urbanístico e habitacional, somado a outros fatores.
Cada cidadão deve combater o mosquito. Esse não é o primeiro ano que a epidemia ocorre, portanto todo mundo já sabe o que deve ser feito. Vamos cuidar, porque dengue mata, e apesar de ser repetitivo é uma verdade. Quanto a nós, urbanistas e futuros, vamos continuar tentando conscientizar a população e os poderes públicos quanto à importância de um planejamento adequado.
Fontes das imagens:
Fontes das imagens:
http://www.pmrb.ac.gov.br/v4/index.php?option=com_phocagallery&view=detail&catid=2&id=12&tmpl=component&Itemid=46
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Combogó, cobogó, cobogow ou combogol!!??
Quando comecei a dar aula, me surpreendi com a grafia de uma palavra que até então, pra mim, sempre foi corriqueira desde a infância. Tratava-se de um desenho arquitetônico, onde o aluno estava indicando um elemento vazado, e estava escrito combogow. Confesso que inicialmente até achei engraçado, e pensei que o aluno havia se confudido e escrito um “w” onde não existia. Com o passar das aulas, notei que é assim que o elemento vazado ficou conhecido aqui no Acre, o que se confirmou quando vi uma propaganda na televisão de uma loja de material de construção, onde a grafia era a mesma.
Claro que como arquiteta, professora e pernambucana, não podia deixar de corrigir os alunos todas as vezes em que o equívoco ocorria, mesmo que fosse algo culturalmente entranhando na linguagem coloquial do acreano. Digo isto porque ouvi outras pessoas, inclusive profissionais da área, repetirem o mesmo engano.
Então, lembrando disto, pensei em um post sobre o tema.
O cobogó é um nome dado ao elemento vazado, muito utilizado na década de 20 pelos engenheiros Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góis, que patentearam o nome com as iniciais de seus sobrenomes, aceita também a forma gramatical combogó, pois é, o combogó ou cobogó ( e não, nunca, jamais, combogow ou derivações similares), é uma invenção pernambucana, inspirada nos muxarabiês, tramas vazadas de madeira, muito usada na arquitetura moura, presente no início da colonização pernambucana, ainda hoje os muxarabiês são encontrados em algumas casas.
Com a intenção de manter a privacidade sem comprometer a luminosidade e a visibilidade de dentro pra fora da edificação.
Os cobogós foram e ainda são bastante utilizados, embora tenham seu momento kitsch, em fachadas e como divisórias nos ambientes internos. Pois permitem uma “quebra” da incidência solar direta e ainda um melhor aproveitamento da ventilação natural. Um ótimo elemento para a região nordeste.
Um dos marcos do modernismo no Brasil, um dos mais importantes edifícios do patrimônio brasileiro: a Caixa d’Água de Olinda, no Alto da Sé, projetada pelo arquiteto Luiz Nunes em 1936, um dos pioneiros da arquitetura moderna brasileira.
Caixa d'água de Olinda |
Caixa d'água de Olinda- vista da fachada em cobogó. |
Localizada em um sítio histórico colonial, causou muita polêmica, devido ao uso de pilotis e a forma pura da construção, que utiliza uma fachada cega e outra totalmente vazada, como cobogós.
Oscar Niemeyer, entre outros modernistas utilizaram muito os cobogós, juntamente com os brises, em várias fachadas, principalmente em Brasília.
Um outro edifício muito peculiar, localizado no bairro do Recife Antigo, em Recife,é o Edifício Luciano Costa, que até bem pouco tempo apresentava a junção de dois estilos, de duas épocas diferentes. Construído em 1915, em estilo eclético, o prédio foi encoberto por uma nova fachada, com cobogós, em 1959, configurando um estilo modernista.
Fachada original de 1915 do edifíco Luciano Costa-Recife Antigo-Recife-PE |
Fachada do edifício depois da intervenção de Delfim Amorim, sofrida em 1959- uso de cobogós formando um véu na fachada original. |
O prédio passou por uma reforma, onde seus elementos vazados foram retirados e a fachada original foi resgatada.
Fachada do edifíco após retirada recente dos cobogós. |
Originalmente feitos em cimento, hoje podem ser encontrados em diversos materiais, como cerâmicos, vidros, esmaltados, mármores e etc.
Cobogó genuíno |
Cobogó Haaz- uma versão mais atual feita em mármore branco para uma exposição na Turquia-criação do arquiteto Márcio Kogan. |
Galeria de arte da Casa Cor Brasília 2008-projeto Domo Arquitetos |
Particularmente gosto do uso do combogó, mas é preciso estar atento para a harmonia entre o modelo e a tipologia da fachada. Outros itens importantes a serem considerados são em relação ao nível de insolação e ventilação. O efeito conseguido ao longo do dia com a variação da iluminação provoca visualizações internas diferentes e bastante agradáveis.
Escola infantil em Natal-RN-projeto Felipe Bezerra-efeito visula circulação interna |
Vista da fachada- Escola infantil |
Efeito visual da fachada |
Aqui na região norte, uma outra preocupação é com relação às chuvas, pois dependendo de como for empregado, com certeza havéra muita água adentrando a edificação através dos cobogós.
Painel de cobogós amerelos-projeto da arquiteta Renata Pedrosa |
A noite o modelo em círculos destes cobogós projetam um efeito de bolas na parede de trás-projeto da arquiteta Jovita Torrano |
Vocês poderão encontrar mais imagens no site http://casa.abril.com.br/materias/materiais-construcao/cobogos-fashion-cores-modelos-novos-usos-elemento-vazado-615732.shtml#4.
Fontes consultadas:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.005/975domingo, 16 de janeiro de 2011
Arquitetura no Acre
Foto da fachada principal da OCA.
http://www.agencia.ac.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=14534&Itemid=26
Inaugurada em Rio Branco a Organização Central de Atendimento, um local para serviços de atendimento ao cidadão. Com arquitetura contemporânea, a edificação é bem racionalizada e como não poderia deixar de ser, bastante funcional. Suas fachadas são recuadas com fechamento em pano de vidro e uma cortina de brises horizontais fixos. Com uma semi-cúpula central com estrutura métalica, fechamento em vidro laminado e revestida com os brises, fazendo uma alusão a uma oca índigena. Os brises que aparentam serem de madeira, são feitos de perfis metálicos, conferindo uma maior durabilidade e um baixo custo de manutenção.
Foto do mezanino da OCA.
http://www.agencia.ac.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=14534&Itemid=26
Atentem para a escultura do condor mais ao fundo e da revoada de pássaros mais acima. Integração entre arquitetura, interiores, decoração e arte.
Arquitetura do Acre, no Acre, para o Acre.
Ultimamente Rio Branco tem recebido muitos investimentos em infraestrutura urbana, claro, ainda há muito que se fazer, mas tem avançado. Estou aqui há apenas 3 anos, e já vi muita coisa mudar. Os mais “antigos” dizem, que há 10 anos a cidade era outra, ainda mais precária. Bem, muitos têm curiosidade sobre Rio Branco e o Acre de um modo geral, afinal, um estado na floresta amazônica desperta isso. Porém Rio Branco é uma cidade como outra qualquer, guardada as devidas proporções, pois a população ainda é pequena e área territorial muito grande. O Estado gera pouca receita, então, tanto o estado quanto os municípios, basicamente precisam de recursos federais para os investimentos necessários em infra-estrutura urbana, arquitetura e construção. As empresas privadas de construção ainda dependem dos órgãos públicos.
Mas, gradativamente a arquitetura típica acreana vem mudando de tipologia. Aproveitarei esse espaço para divulgar a arquitetura do Acre, no Acre e para o Acre. Aguardem!
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